terça-feira, 6 de setembro de 2011

A Formiga

















E dizer-se que não tens nervos, ó nervosa
ó vibrátil, sutil, minúscula formiga!
Dizer que não tens alma! E haverá quem o diga,
se o teu exemplo toda gente o imita e glosa?!

Tão pequenina és tu, e, astuta e laboriosa,
arrastas uma folha — e a arrastada te abriga...
E o requinte que pões em roer o grão de espiga?
E a perícia em bordar as pétalas da rosa?

Passas, eu me pergunto onde o melhor motivo:
se — Atlas — erguer nas mãos e nos ombros a Esfera,
se — formiga — arrastar um ramo nutritivo;

Ou — sonhador que a própria angústia retempera —
dia e noite viver, qual dia e noite vivo,
ao peso imaterial de uma triste quimera...

Hermes Fontes

Antigo ritual























Muro cinzento coberto de musgos
dia nublado, garoa, frio.
Em bando, pássaros brancos
cortam o céu.

Por sobre o velho muro
em fila, formigas negras
carregam folhas.
Lentas, precisas, agourentas.
Sentinelas do portal talvez...

Lá dentro, implacável silêncio.
A vala preparada à espera.
Olhos úmidos, abraços
mãos apertadas.
Velhos amigos
que o tempo separou.

Em frente, em fila
seguem as formigas.
Impossível parar.
Metáforas da vida talvez...
Uma a uma, lentamente
assistem, sobre o muro frágil
ao antigo ritual das despedidas.

Lá dentro agora
soluços, prantos comedidos
preces, indagações, pesares.
E o meu amigo dorme
indiferente...
Ao frio, á garoa, aos pássaros
ao pranto, às preces e aos abraços.
Indiferente á dor e à vida
que já foi tão doída.

Seguem as formigas
por sobre o muro...
Em breve anoitece.
Amanhã
não estaremos mais aqui.

Por sobre o velho muro
uma a uma
seguirão as formigas...

Nydia Bonetti

O Enterro Da Cigarra



















As formigas levavam-na... Chovia...
Era o fim... Triste Outono fumarento...
Perto, uma fonte, em suave movimento,
Cantigas de água trêmula carpia.
Quando eu a conheci, ela trazia
Na voz um triste e doloroso acento.
Era a, cigarra de maior talento,
Mais cantadeira desta freguesia.
Passa o cortejo entre árvores amigas...
Que tristeza nas folhas.., que tristeza
Que alegria nos olhos das formigas!
Pobre cigarra! quando te levavam,
Enquanto te chorava a Natureza,
Tuas irmãs e tua mãe cantavam...

(Olegário Mariano)

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Às formigas



















Havia aveia na cozinha
Nel e suas formigas
vermelhas
mantinham a linha:
só comiam açúcar
e viravam poema

Clauky Saba

Grilos e Formigas.






















Tem coisas que só os grilos sabem cantar
Coisas antigas, como velhas canções de ninar
Mas, nem todo grilo sabe cantar ou dizer o que sente
As formigas sabem cantar, mas, precisam trabalhar
Além do mais, ninguém gosta de ouvir formiga cantarolar

Mas, não é bem assim que acontece com os grilos
Os grilos não arrastam folhas, eles nasceram popstars

São celebridades, mesmo sem saber cantar!

Ney Gomes.

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